Educação GUARULHOS

Gisele Soto fala sobre o trabalho das escolas durante a pandemia, sob o olhar do Coordenador Pedagógico.

Compartilhe nas redes sociais!

Diante do cenário que vivemos, trago para vocês uma reflexão a respeito do trabalho do Coordenador Pedagógico. A especialista Gisele Soto, que atua como Coordenadora Pedagógica há 10, nos traz um pouco da sua experiência e impressões neste momento de profundas mudanças na educação, Gisele é pedagoga e faz parte do grupo contexto integrado de Educação Infantil na FEUSP.

Vamos acompanhar!

Em meados de março, fomos surpreendidos com a pandemia da COVID-19, tivemos que repensar nossa rotina cotidiana diante dessa adversidade, muitos trabalhadores de todas as áreas passaram a adequar os seus lares  transformando-os em ambiente de trabalho.

Para nós, profissionais da educação não foi diferente, deparamo-nos com essa nova realidade e desde então estamos diante de diversos desafios que têm se transformado em importantes momentos formativos, trazendo à tona as potencialidades e fragilidades da escola, seja pública ou particular.

Toda a equipe escolar tem empenhado esforços em atender essa nova demanda de trabalho, sendo o Coordenador Pedagógico aquele que atua na linha de frente junto aos educadores na organização do trabalho, no planejamento e execução das ações e no processo formativo. Um dos primeiros desafios do Coordenador Pedagógico e da equipe gestora, foi comunicar a interrupção das aulas, tanto para educadores quanto para educandos e suas famílias;  estávamos diante de muitas angústias e dúvidas, muitas expectativas sobre o futuro;  é difícil olhar para as pessoas e dizer: não sei o que será o amanhã, não sei quando retornaremos, não há previsão; na verdade não temos controle nenhum sobre o amanhã, no entanto nossas rotinas cotidianas, geralmente cheias de planos futuros, trazem-nos uma certa “sensação de normalidade e segurança”, e nos dá a certeza de que o amanhã virá e sabemos exatamente o que fazer.

Foi necessário certo tempo para compreender e aceitar essa nova realidade, passamos por um processo de aceitação, prosseguimos fazendo a escuta constante ao longo desse percurso: ouvir a sua equipe, suas necessidades, suas fragilidades, e tranquilizá-los para seguir em frente, mesmo diante de situação tão adversa e repleta de incertezas como a da pandemia.

Os educadores passaram a lecionar através de plataformas e diversos meios virtuais, em todos os níveis e setores.  Eis um dos grandes desafios, muitos deles do dia para noite tiveram de lidar com as tecnologias de forma inusitada, revisitar o notebook que estava abandonado no canto da sala, ou mesmo utilizar-se do celular, transformando-o em ferramenta de trabalho. Temos ainda as plataformas que antes eram pouco utilizadas por educadores e passaram a fazer parte do seu cotidiano. Se antes ouvíamos do educador “desliguem o celular, vamos iniciar a aula”, agora temos “liguem os celulares, vamos iniciar a aula”. Esse paradigma nos revela o quanto é importante que o educador tenha acesso às tecnologias e também que lhe sejam oferecidas oportunidades formativas de aprimorar-se ou ainda apropriar-se de seus usos, sendo mais um instrumento potencializador nas suas aulas, dentro e fora do ambiente escolar. Essa fragilidade sinaliza a necessidade de investimentos nesse sentido, em ambas as esferas, pois não basta ter em mãos a ferramenta, é preciso qualificar seu uso a favor das aprendizagens.

Cabe destacar aqui, a importância do Coordenador Pedagógico na mediação da relação do educador com o uso das tecnologias: acolhendo as dúvidas e suas dificuldades no uso das ferramentas e plataformas virtuais, além de estimular o trabalho colaborativo entre a equipe, o que tem sido muito significativo.

Vale ressaltar também a importância de selecionar as informações, visto que estamos tendo acesso a diversas informações simultâneas em tempo real; então é preciso ter coerência entre o que se lê estabelecendo parâmetros de acordo com sua realidade, além de ter o cuidado em verificar a veracidade das informações devido à propagação de “fake News”.

Por outro lado, ao contrário do que possamos imaginar, nem todos os profissionais da educação dispõem de um computador ou celular compatível  para planejar as aulas, e muitas vezes têm que dividir com outros membros da família que também estão em teletrabalho e/ou com os filhos que estão estudando online; além da precariedade de acesso à internet, dificultando, por exemplo, a participação nas reuniões online, são diversas as situações trazidas pelos educadores e equipe nesse trabalho remoto.

Em especial gostaria de destacar o papel das mulheres, sabemos que a educação em sua maior parte é constituída pelo sexo feminino; logo temos aqui mais um grande desafio e disparidade, pois as mulheres que estão em teletrabalho acumulam outras funções como: zelar pelos filhos, acompanhá-los nas aulas online, e cuidar dos afazeres domésticos. Muitas vezes sem contar com uma rede de apoio para compartilhar essas funções  que se tornaram  mais intensas nesse período de isolamento social, o que revela uma grande sobrecarga de trabalho.

Mesmo com todas as dificuldades, tudo isso tem se transformado em uma oportunidade única para o fortalecimento do trabalho colaborativo, uma vez que grande parte das plataformas utilizadas pelas escolas são ambientes virtuais colaborativos. Se antes cada educador permanecia em sua sala de aula, no ambiente virtual os educadores compartilham a mesma sala de aula simultaneamente. Isso acaba nos trazendo elementos formativos para refletir sobre o olhar fragmentado, já que  educadores de todas as áreas e/ou agrupamentos,  passam a integrar o mesmo ambiente, sendo uma oportunidade excepcional para compartilhar as experiências e proporcionar um olhar interdisciplinar.

De fato, o planejamento dos educadores tem sido desafiador, especialmente no que diz respeito à qualificação das “atividades” que estão sendo propostas aos educandos. No espaço virtual temos as devolutivas  dos educandos e também de suas famílias, o que tem repercutido muito sobre algumas práticas que precisam ser repensadas e qualificadas. O educador que planeja para o ambiente virtual repensa o tempo todo sobre as atividades propostas, pois há uma preocupação enorme em conseguir atingir as expectativas, e chegar ao  educando.

Considero importante que o Coordenador Pedagógico exercite a escuta ao longo deste percurso, pois isso constitui temáticas a serem pensadas coletivamente nas reuniões virtuais, e  certamente ao retornar elas continuarão em discussão, pois muitas fragilidades têm se tornado mais evidentes nesse trabalho remoto. Outra estratégia formativa importante a ser utilizada para alimentar os momentos formativos com os educadores são as lives, se antes o utilizavam-se  de um texto retirado de um livro, hoje temos o privilégio de estar ouvindo a fala do próprio autor, o Coordenador Pedagógico pode utilizar-se de lives pertinentes as temáticas que estão sendo discutidas com sua equipe; no entanto  é necessário ponderar o que se propõe, aqui vale mais a qualidade do que a quantidade; o fato de assistir muitas lives não garante sua relevância, portanto é preciso adequá-las a pertinência do diálogo que está acontecendo com sua equipe, de forma que sejam  impregnadas de sentido.

O acesso dos educandos e famílias tem sido uma preocupação constante dos educadores e de toda equipe escolar, pois sabemos das inúmeras dificuldades de acesso por parte destes como: ter minimamente um aparelho celular com acesso a internet, o que nos leva a pensar sobre a função social da escola nesse contexto e nas garantias de direitos e de equidade; várias ações têm sido realizadas pelas escolas como estratégias para atender as demandas das famílias nesse contexto. No entanto, percebemos que as famílias apresentam necessidades adversas que indicam a necessidade de um trabalho integrado entre educação, saúde e assistência social.

Todo esse processo tem sido instrumento de formação e reflexão  contínua, e tem evidenciado algumas fragilidades que sempre existiram na escola, especialmente no que se refere a sua função social e sobre a utilização  das tecnologias enquanto instrumento potencializador das aprendizagens.

A partir do exposto, acredito que a escola volte fortalecida após esse período e se torne um espaço mais colaborativo, com novas experiências que passarão a integrar e fazer parte do trabalho pedagógico daqui para frente. As expectativas de retorno  não param, todos os dias  ouvimos “quando voltam às aulas” ? Sobre essa pergunta ainda não temos resposta, aliás, tem sido assim, um dia de cada vez; não temos previsão de retorno, e nem sobre como será esse retomo, mas já estamos diante dessa discussão, e da possibilidade próxima de um retorno dentro de uma nova realidade, diferente da rotina habitual das escolas antes da pandemia.

Somos levados a acreditar que esse retorno nos trará muitos desafios que foram elucidados ao longo de todo esse percurso de trabalho remoto durante a pandemia. É fundamental que o Coordenador Pedagógico e toda a equipe, possam resgatar o registro dessa trajetória do seu grupo para a continuidade do trabalho e das ações formativas futuras.

Gisele Soto é convidada de Lidiane Siqueira para trazer essa excelente matéria em sua coluna de Educação.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *