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O DILEMA DO CONTROLE

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A transformação tecnológica no mundo pode ser colocada em um novo patamar com a democratização do acesso à internet nos últimos 10 ou 15 anos.

Se há décadas atrás qualquer pai de família se sentia o supra sumo da independência por ter nas mãos o controle remoto da televisão, hoje em dia esse mesmo patriarca tem no bolso de sua calça o portal para o mundo, a facilidade para a vida contemporânea, a comodidade de ter um carro à disposição num único click, mas ao mesmo tempo, tem também uma enxurrada de movimentos virtuais que repensam inclusive o papel de uma sociedade patriarcal em plena desconstrução, vozes das minorias em ressonância contra padrões de sociedade e sobretudo está ali o apogeu da exposição midiática de sua família.

Entre outras palavras esse cidadão pode ter na palma de suas mãos uma contraditória relação de independência: tem controle de tudo pelas redes sociais, mas não é capaz de controlar quantas horas a filha adolescente fica diante da tela do celular. Um grande fenômeno contemporâneo se apresenta: as redes sociais são o néctar da facilidade ou o ópio do descontrole?

Há quem reflita que a grande maioria das pessoas no planeta tem uma vida paralela da vida real, àquela exposta nas redes sociais; mas há também quem defenda que nossas postagens são reflexos de nossas relações humanas e experiências cotidianas.

De um lado ou de outro, sendo pessimistas ou otimistas em relação ao (des) controle que temos de nossa condução perante o universo das redes sociais, o fato é que pouco ou quase nada sabemos sobre algoritmos, influências, conspirações, interesses e bastidores das grandes e milionárias empresas de tecnologia em que nos fazem viver o dilema das redes sociais.

Por falar nisso, o filme documental de mesmo nome “O Dilema das Redes” de 2020, lançado pela plataforma de streaming “NetFlix” traz depoimentos provocativos e contundentes de ex-funcionários e líderes de grandes marcas do universo digital como o google, facebook, twitter e instagram.

São inúmeros aspectos positivos trazidos pelas redes sociais em nosso cotidiano; desde a velocidade da informação, realização de campanhas sociais, encontro de pessoas desaparecidas, difusão do trabalho de cada um, dentre tantos outros pilares da vida em sociedade; porém a funcionalidade das redes sociais não se esgota nesses aspectos citados; se por um lado há um hall de benefícios, por outro há um submundo capaz de fazer dessas plataformas, verdadeiras pontes para o controle de nossas ações.

Eleições sendo vencidas com a disseminação de fake-news, polarização política raivosa com consequências danosas para a convivência social, vitrine para propagação de preconceitos, teorias da conspiração… Essas são algumas fontes inesgotáveis e multiplicáveis numa velocidade gigantesca, capazes de criar e recriar senso comum dos fatos, fazer com que mentiras contadas mil vezes sob likes e compartilhamentos passem a ser “verdades absolutas” e toda uma esfera de aparente controle da situação.

“Se você não está pagando pelo produto, você é o produto” essa frase abordada no filme em questão, acentua ainda mais a reflexão de que estamos diante de uma mercantilização dos nossos dias, a precificação do nosso tempo, nunca antes vista na história. Você já que está lendo esse artigo, controla o tempo em que usa o celular durante o dia? Você vê seu celular quando acorda ou assim que vai ao banheiro quando acorda? São perguntas simples, mas que nos coloca no centro dessa roda viva entre o controle que temos da nossa vida e a nossa vida controlada pela indústria da tecnologia. Hábitos novos, que cada dia mais nos tira o nosso controle, nossas escolhas e nossas vontades próprias. Somos influenciados integralmente e nem nos damos conta disso..

Tiago Ortaet é professor, escritor e ativista social, atualmente está diretor de direitos humanos da cidade de Guarulhos. @tiagoortaet

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